Não sou escritor, não escrevo com compromisso nem literário, nem de promoção pessoal. E por que dizer isso logo na primeira postagem da "reabertura" de um blog?
Acredito que escrita sempre tem a ver com algo pessoal. Com alguma coisa que se passa dentro de você, com você, para você. De alguma outra forma, externalizada, a escrita pode gerar qualquer coisa inominável no outro, que somos nós mesmos. O outro é a maior representação do eu, por isso o misto do amor e raiva. E a escrita pode ser a nossa maior forma de ser o outro, que é ser nós mesmos.
Os textos aqui publicados na sua grande maioria não tem sequer a ver com a vida pessoal de quem escreve, mas ao mesmo tempo tem. Nenhuma linha poderia ser escrita se algo, de alguma maneira pessoal, não fosse vivenciada. Ou idealizada. A escrita pode ser ao mesmo tempo tanto pessoal quanto impessoal. Mata e salva. Sendo claro desde o princípio: a escrita não tem compromisso com ninguém, a menos que você seja um profissional e viva disso. A escrita não deve ter compromissos, amarras. Tem que ser livre, liberta, é alma. A escrita é impalpável.
No mais, compartilho um trecho de uma carta, da tão famosa, hermética e popular (pólos tão impossíveis! digo popular porque caiu no "gosto", mas ainda acredito que permaneça incompreendida) Clarice Lispector a Andréa de Azulay:
Obs.: modifiquei os gêneros porque também acredito que a leitura é pessoal. O leitor tem uma relação íntima com seu texto, e o autor fala àquele que o possa ouvir com ouvidos não materiais.
" [...] Você precisa saber que já é um escritor. Mas nem ligue, faça de conta que nem é. Eu lhe desejo que você seja conhecido e admirado por um grupo delicado embora grande de pessoas espalhadas pelo mundo. Desejo-lhe que nunca atinja a cruel popularidade porque esta é ruim e invade a intimidade sagrada do coração da gente. Escreva sobre ovo que dá certo. Dá certo também escrever sobre estrela. E sobre a quentura que os bichos dão à gente. Cerque-se da proteção divina e humana, tenha sempre pai e mãe - escreva o que quiser sem ligar para ninguém. Você me entendeu?"
(MOSER, Benjamin. Clarice,. Tradução de José Geraldo Couto. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 479.)
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