segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Choveu.

Hoje o mundo desabou sobre nossas cabeças. Alvas, livres, enquanto o tempo nublado sobre o céu da cidade enchia de lágrimas o vidro dos ônibus, automóveis. Há tempos que a saudade batia, há tempos eu havia comprado também um guarda-chuva. E como quem espera a chuva, aguardei. Mas aguardei chuva como bênção, saudosa lembrança. Bons tempos aqueles dos primeiros suspiros, os teus. Da briga de gato e rato, de amor e eu, inalcançável. Imperfeito. Conjugado antes mesmo de sabermos que verbo seria, que palavra seria dita, mais ou menos três anos após. O gosto de café amargo, entalado na garganta. Minha pele branca, de suspense, de medo, de terror. Pavor. Senti enorme pavor. Arrisquei.

 Ao ouvir tua voz suspensa entre um alô e minha identificação, encontrei um abismo. Mas havia uma ponte. Mas só vi o abismo no teu silêncio. A resposta quase ríspida, outrora minha, quase me confundiu. Sonhei. Naquele sonho um cão místico, quase uma esfinge, mordia meu braço e o tarô revelava silêncio e precisão. Silêncio mais uma vez. A resposta seguinte foi cheia de alvo, eu sendo este. Meus sonhos sempre previam algo. Os dos outros também. Esse meu lado que tem a ver com o Outro Lado sempre me encantou. Segui sempre em corda bamba, entre o mistério e o previsível. Sempre fiquei imprevisível.

 Longo suspiro cansado por ter sido alvejado. Teu primeiro golpe doeu. O segundo me feria por completo. Agora, eu sentia as lágrimas do nada descerem sobre meu rosto. Não aquelas feitas por mim, mas aquelas que desabaram do céu enquanto eu te falava. Essa poderia ser A História das Lágrimas que Não Chorei. Não houve lágrimas, só houve dor. Muita dor. O tempo lacrimejou por mim. O tempo desabou sobre minha cabeça enquanto o peito apertava contra a parede molhada e o ouvido apertava contra o telefone que suava. Entre gritos de pessoas em volta, conversas, o meu tempo por segundos, minutos, parou. A sua não-resposta me deu esperança e desespero. Um não-adeus também. Só não sigo com estas. Apenas sigo em frente.

 Se vai ser aqui, se vai ser agora, se tiver de ser. Por enquanto, eu sigo em frente. E provavelmente isso irá me render textos, e devaneios. Não a esperança, mas os mistérios da vida. A minha decisão tardia, sempre tomada perante as pressões... ainda vai me render muita coisa. Não com lágrima, não sei. Agora não há. Só uma dor amarga, golpe profundo. Porque não há nada para ser chorado, só um luto silencioso por nós dois. Sempre ouvi dizer que quando morre alguém, chove. Hoje choveu. Choveu enquanto nossas vozes fúnebres entoavam o canto celestial de amor. Enquanto não houver respostas, eu sigo em busca do nada, me alimentando da luz que existe por detrás do escuro. Eu morri enquanto a chuva escorria na minha testa, molhava meus cabelos. Eu sequer inaugurei o guarda-chuva. Ainda está guardado. Quem sabe, quando houver sol, alguém se lembre dele, empoeirado e ainda assim, celebre uma lágrima não chorada em minha homenagem.

Um comentário:

  1. Que lindo esse nosso mundo poético... agora a pouco postei falando do meu amor pela poesia.
    Qualquer pergunta... uma breve resposta.. onde até a chuva consegue chorar por nós e entender a agonia daquele que sabe amar intensamente...Pois o amor nem precisa de presença.. apenas do sentir... e sentimento você tem a sobejar... Parabéns! Amei!

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